01/11/2023 às 23h38
231
Redacao
Vila Velha / ES
Os vereadores de Anchieta aprovaram, em sessão extraordinária na noite dessa terça-feira (31), a concessão de auxílio-alimentação de R$ 1 mil para eles mesmos.
Se o projeto virar lei, os 11 vereadores da cidade do litoral sul capixaba passarão a receber um tíquete mensal nesse valor, “independentemente da jornada de trabalho”, como consta na redação do projeto. Na justificativa, os autores alegam tratar-se de uma questão de “dignidade” e de “sustento” deles mesmos e de suas famílias.
O projeto foi apresentado com a assinatura de sete dos 11 parlamentares, incluindo o presidente da Casa, Renan de Oliveira Delfino (PP). Além dele, a proposição foi assinada por Renato Lorencini (PSB), Serginho (PSD), Professor Robinho (Avante), Cleber Pombo (PSD), Tereza Mezadri (PSB) e Marcia Cypriano (Podemos).
Na sessão extraordinária, o projeto foi aprovado por 6 votos a 3. Votaram contra os vereadores Pablo Florentino (PMN), Niltinho (PSC) e Rodrigo Semedo (PP).
Durante a votação, os três também chegaram a apresentar verbalmente uma emenda modificativa, para que a concessão do benefício continuasse valendo apenas para os servidores da Casa. A emenda foi rejeitada pelo mesmo placar: 6 a 3. Só foi apoiada pelos três autores.
A iniciativa dos vereadores contém uma grande pegadinha: espertamente, eles embutiram um jabuti no projeto.
A Câmara de Anchieta já paga auxílio-alimentação aos servidores da Casa. Desde fevereiro de 2022, cada funcionário recebe R$ 700,00 por mês, “independentemente da jornada de trabalho”.
O projeto apresentado agora altera em dois pontos a redação da lei municipal de fevereiro de 2022, que fizou em R$ 700,00 o benefício para os servidores da Câmara.
No primeiro artigo, o projeto aprovado nessa terça reajusta o valor desse tíquete para R$ 1 mil – variação de 42,8 %, muito acima do IPCA acumulado no período.
No segundo artigo vem a pegadinha: nos termos da lei de 2022, “o auxílio-alimentação será concedido a todos os servidores ativos da Câmara Municipal de Anchieta, independentemente da jornada de trabalho” (grifo nosso).
Agora, esse parágrafo da lei ganha a seguinte redação: “O auxílio-alimentação será concedido a todos os agentes públicos da Câmara Municipal de Anchieta, independentemente da jornada de trabalho” (grifo nosso).
Portanto, no lugar de “todos os servidores ativos”, o benefício passará a abranger “todos os agentes públicos da Câmara Municipal de Anchieta”, aí incluídos os 11 vereadores.
Assim, como se pode ver, os autores deram um jeito de, no mesmo projeto, corrigir o tíquete pago aos servidores da Casa e embutir o pagamento do benefício, no mesmo valor, para eles mesmos.
Agora, o projeto segue para a análise do prefeito Fabrício Petri (PSB). Ele tem 15 dias para vetar ou sancionar a lei.
A nossa apuração indica que ele certamente não o vetará, até por conta da “esperteza” dos vereadores explicada acima: embutirem a concessão do benefício para eles próprios no mesmo projeto que amplia o valor pago aos servidores, eles vinculam as duas coisas.
Dessa forma, se o prefeito vetar a matéria, anulará também a correção do tíquete, frustrando todos os servidores da Câmara de Anchieta – uma das que emprega mais gente no Espírito Santo, proporcionalmente à população do município.
Uma saída política para o prefeito será deixar transcorrer esse prazo legal de 15 dias para devolver a matéria à Mesa Diretora da Câmara, sem se manifestar sobre ela. Nesse caso, competirá ao presidente da Casa, Renan Delfino, promulgar a nova lei por sua conta. Essa será a provável saída estratégica adotada por Petri.
Na próxima sexta-feira (3), o prefeito seguirá em viagem ao exterior, deixando a administração municipal aos cuidados do seu vice-prefeito, Carlos Waldir (MDB), grande aliado de Petri e muito sintonizado com ele. Como prefeito em exercício, Waldir não deve se posicionar sobre o tema. Deve esperar a volta de Petri, que, de todo modo, tende a deixar expirar o prazo.
Os autores do projeto se mostram altamente confiantes na sanção por parte do prefeito. Tanto que cometeram um ato falho. Tenha sido por excesso de confiança ou de pressa, o que foi publicado no site da Câmara não foi o projeto de lei, mas um documento em nome de Fabrício Petri (mas não assinado pelo prefeito) no qual ele, antecipadamente, diz que “sanciona a lei”.
A justificativa do projeto é um acinte.
Os autores argumentam que, segundo o Dieese, “o valor da cesta básica atualmente na região de Anchieta (valores tomados na capital do Estado) é de R$ 706,06”.
Eles dizem, ainda, que o projeto atende ao direito constitucional à alimentação: “A concessão do benefício vai ao encontro do Direito Constitucional à alimentação (art. 6º) e contribui para valorizar cada parlamentar de Anchieta e suas respectivas famílias”.
Alegam, ainda, que “se trata de medida de interesse público, por atingir diretamente a dignidade dos agentes públicos desta Casa de Leis, o sustento próprio e de sua família”.
Os vereadores de Anchieta só têm uma sessão plenária por semana, às terças-feiras, a partir das 18 horas. Como qualquer parlamentar, não são obrigados a se dedicarem exclusivamente ao exercício do mandato, podendo perfeitamente conciliar a vereança com o exercício de atividades profissionais e, portanto, acumular fontes de renda.
Dá para comprar 12 cestas básicas, levando em conta o dado da própria justificativa.
FONTE: ES 360
Há 2 semanas
Polícia Civil realiza ação de combate ao furto de energia em CariacicaHá 2 semanas
Polícia Civil realiza ação de combate ao furto de energia em CariacicaHá 2 semanas
ARSP abre Consulta Pública sobre reajuste das tarifas de água e esgoto da CesanHá 2 semanas
Callegari ‘conversa’ com partido Novo em meio a articulações contrárias no PLHá 2 semanas
Saiba como a polícia age para recuperar bicicletas elétricas roubadas no ES