Terça, 17 de junho de 2025
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16/06/2023 às 08h54

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Redacao

Vila Velha / ES

Catadores de recicláveis de Vila Velha receberão orientação jurídica
Defensoria Pública realizará mutirão para orientar sobre lei que proíbe circulação de carrinhos no município
Catadores de recicláveis de Vila Velha receberão orientação jurídica
DPES

A Defensoria Pública do Espírito Santo (DPES) realiza, na próxima terça-feira (20), um mutirão de orientação jurídica e atendimentos para os catadores de recicláveis do município de Vila Velha, na Grande Vitória. A iniciativa tem como foco a Lei Municipal nº 6.803 de 2023, que passou a vigorar a partir de março deste ano e "proíbe a circulação dos carrinhos movidos por população humana, utilizados na coleta de resíduos recicláveis". A atividade será no auditório do Núcleo da Defensoria Pública, em Coqueiral de Itaparica.


A Lei nº 6.803 proíbe a circulação dos carrinhos em um raio de 300 metros dos terminais de transporte público instalados no município, além das vias urbanas, nesse caso, via arterial, coletora e da orla marítima. Nas vias rurais, a proibição é nas rodovias. A lei também estabelece que caberá à Secretaria Municipal de Assistência Social, a identificação, acolhimento e encaminhamento para a rede socioassistencial e de serviços, "para garantir a dignidade humana para os condutores desses carrinhos".


Caso haja descumprimento, o condutor poderá ser penalizado com pagamento correspondente a 100 VPRTMs (Valor Padrão de Referência do Tesouro Municipal), "a ser cobrado em dobro a cada reincidência, além de apreensão do carrinho e de arcar com despesas de remoção e estada do carrinho". A lei estabelece ainda que, "no caso de não ser reclamado e retirado dentro do prazo de 10 dias úteis, a contar da apreensão, o carrinho poderá ser desmontado e suas peças encaminhadas às associações que trabalham com materiais recicláveis devidamente credenciadas pelo município".


No edital que trata do mutirão, consta que a gestão de Arnaldinho Borgo (Podemos) foi convidada para participar e que deve apresentar para a DPES cópia dos cadastros dos catadores ou quaisquer outros documentos equivalentes. Algumas questões levadas em consideração para realização do mutirão foram o fato de os catadores utilizarem o carrinho como ferramenta para transportar maior quantidade de materiais, no intuito de alcançar o sustento próprio; e a situação de vulnerabilidade dessas pessoas, além do risco de prejuízos a elas decorrentes da lei.


Em abril, a Defensoria, por meio da Coordenação e Núcleo de Direitos Humanos, realizou, também auditório do Núcleo da Defensoria Pública, uma audiência pública para discutir os impactos da lei. A DPES aponta que a legislação impede a circulação de pessoas em situação de rua, "o que configura uma grave violação de direitos". Antes da audiência, junto com a Defensoria Pública da União (DPU), também ingressou com uma Ação Civil Pública (ACP) para que seja afastada a aplicação da norma.


Além do afastamento, há pedidos como criação e organização de grupos, projetos e coletivos de inclusão social através de atividade de coleta de resíduos sólidos recicláveis para pessoas em situação de rua; projetos de inclusão dos catadores; oficinas de empreendedorismo no âmbito da atividade de gestão de resíduos sólidos, incluindo informações sobre a existência de benefícios fiscais na contratação junto ao poder público; programa de conscientização ambiental e educação em saúde do trabalho com foco na atividade de coleta de resíduos; auxílio técnico para a constituição de cooperativa e associação com fins de aprimorar e incentivo à realização de atividade de coleta de resíduos sólidos recicláveis por pessoas em situação de rua; e fornecimento de equipamento de proteção individual para as pessoas que realizam coleta desses resíduos.


Quando aprovada, a lei gerou polêmica. Na ocasião, o Vicariato para Ação Social Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória divulgou, próximo à Semana Santa, uma nota de repúdio não somente contra o ocorrido em Vila Velha, mas também a uma audiência pública que seria realizada na Câmara Municipal de Vitória, proposta pelo vereador Luiz Emanuel Zouain (Republicanos).


O Vicariato classificou as ações como "descabidas e que revelam a prática higienista em curso nos municípios da Grande Vitória, às vésperas da celebração da Paixão e Morte de Jesus Cristo, que continua sendo crucificado pelos algozes que hoje se insurgem contra os catadores de materiais recicláveis e as pessoas em situação de rua nos municípios da Grande Vitória".


No caso da lei sancionada em Vila Velha, denunciou que a iniciativa vai gerar impactos sociais e ambientais. "Em vez de proporcionar mais ações que gerem emprego e renda, a administração municipal proibiu o ir e vir de uma categoria que já é discriminada e pouco reconhecida, porém muito importante para a cidade e o meio ambiente, pois a reciclagem de resíduos sólidos gera renda para diversas famílias e preserva o meio ambiente. Coisas que o poder público deveria fazer". O Vicariato defendeu que "seria muito mais assertivo, decente e cristão, o poder público municipal investir na melhoria das condições de trabalho dessas pessoas, ao invés de publicar uma lei cruel, que aumenta ainda mais o sofrimento de quem padece com a pobreza".

FONTE: SÉCULO DIÁRIO

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